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Salvo melhor juízo, foram os Estados Unidos da América a primeira nação do mundo ocidental a eleger o dirigente máximo do país por meio de eleições presidenciais. Isso ocorreu no ano de 1789, e o eleito foi George Washington (1732-1799). Pois esse mesmo país, que inaugurou o sistema presidencial, realizou a façanha de eleger por dois mandatos, um presidente negro, Barak Obama (2009-2017). Um ferrenho defensor dos direitos civis. Isso tudo em uma nação marcada pelo racismo sistêmico e pelo preconceito das mais diferentes nuances, mas, que, paradoxalmente, deu origem a grandes movimentos de defesa de minorias que se espalharam pelo mundo até os nossos dias. Como se não bastasse, a atual vice-presidente eleita é uma mulher, negra, filha de imigrantes. Parece até provocação com o presidente mais egocêntrico da história e - literalmente - topetudo, que está se recusando em se despedir da morada mais cobiçada da nação norte-americana: a Casa Branca. Kamala Harris, a vice-presidente eleita, fez carreira na defesa dos direitos civis, em especial como promotora e na defesa das mulheres vítimas de violências domésticas. Nessa eleição a maioria dos homens e mulheres norte-americanos fez a opção por alguém que se comprometeu em construir pontes ao invés de muros. Foram sábios esses homens, mulheres, pessoas de todos os gêneros, negros, brancos, imigrantes, indígenas, latinos, professores(as), trabalhadores(as), empresários, enfim, pessoas que preferem viver sem armas, que preferem falar de amizade, de aceitação, de tolerância, de diversidade. Mas, e agora, o que fazer com os milhares, milhões de norte-americanos(as) que foram seduzidos pela proposta da discriminação, do ódio, da separação de crianças de seus pais, colocando-as em jaulas, da expulsão pura e simples de imigrantes, da execução de homens negros pelo simples fatos de serem negros, pela veneração de um líder que nega a poluição do mundo, que não aceita o amor entre pessoas do mesmo gênero, etc? A resposta é conversar. Conversar e conversar. E conversar no sentido original dessa palavra, qual seja: dar voltas com o outro para se entender. Esse é o significado dessa palavra em sua origem do latim: conversare. A democracia norte-americana e do resto do planeta, da qual alguns até fazem piada, só pode continuar existindo se nos dispusermos ao diálogo, ao respeito por aquele(a) que pensa diferente de nós. Como escreveu a mulher filósofa judia Hannah Arendt (1906-1975). Para ela, a democracia devemos garantir para aqueles(as) que pensam diferente de nós, pois, para os que pensam semelhante é muito fácil.
Chegando ao final do texto, dei-me conta que não falei do presidente eleito dos Estados Unidos, o senhor Joseph Robinette "Joe" Biden Jr. Ou, simplesmente, Joe Biden. Pois esse homem branco e essa mulher negra que agora assumem a direção da maior potência bélica e industrial mundial e, segundo reza a lenda, da maior democracia do planeta estão assumindo a responsabilidade de construir pontes que unam as pessoas, as etnias, as diferentes formas de viver. O desafio deles é imenso, pois, estão assumindo depois de um ser humano, demasiadamente humano, que só fez mentir, incentivar o ódio e construir muros. Importante ressaltar que ele foi parado. Esses muros podem ser derrubados ou, simplesmente, serem transformados em peças de museu para que as gerações futuras saibam reconhecer o valor da democracia. Que sirvam de alerta para que as gerações presentes acordem e saibam identificar quando estão frente aqueles(as) que querem mais muros e menos pontes. Para que saibam identificar o odor putrefato do populismo e do fascismo quando ele rondar a democracia. As cartas foram lançadas. Vamos começar a pensar em nossas escolhas? Pontes ou muros? Saliva ou pólvora?